Filme vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2023, “Pobres Criaturas” (Poor Things) é estrelado por Emma Stone e estreia nos cinemas brasileiros em 1º de fevereiro de 2024.
Também produzido pela atriz, o filme dirigido por Yorgos Lanthimos (“O Lagosta”, “Dente Canino”) faz uma releitura da clássica história do monstro de Frankenstein ao narrar a fantástica evolução de Bella Baxter (papel de Emma Stone), uma jovem que é trazida de volta à vida pelo brilhante e pouco ortodoxo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe).
Desejando conhecer mais sobre o mundo, Bella foge com Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado astuto e debochado, para uma aventura por vários continentes. Livre dos preconceitos de sua época, Bella se firma em seu propósito de defender a igualdade e a libertação.
Baseado no livro de Alasdair Gray, o roteiro de “Pobres Criaturas” foi escrito por Tony McNamara, fazendo desta a sua segunda colaboração com Lanthimos e Stone, que também trabalharam juntos em “A Favorita”.
Este é, sem dúvida, o trabalho mais ousado da carreira de Emma Stone até agora – e mostra que atrizes conhecidas do grande público podem evitar se tornarem estereotipadas. Com isso, ela se torna forte aposta para a temporada de premiações, podendo sair vitoriosa do Globo de Ouro, do SAG Awards e do Oscar.
Em conversa com a imprensa no último dia 5 de dezembro, perguntamos à Emma o quê exatamente a fez decidir correr o risco de interpretar um papel tão pouco convencional e que também inclui cenas de nudez e sexo. A atriz não titubeou ao responder:
Ah, eu não pensei duas vezes. [Bella] foi a melhor coisa de todas. Ela é minha personagem favorita de todos os tempos. E era [um filme] com Yorgos. Eu estava pronta e não foi uma decisão difícil. Eu me senti com muita sorte [de ter recebido o roteiro].
Emma acrescentou que Bella é uma aceitação do que é ser mulher, “do que é ser livre para sentir medo e ter coragem”. E a liberdade que a personagem busca também está refletida atrás das câmeras, já que Lanthimos propôs à atriz que ela também desempenhasse o papel de produtora do longa.
Nós estávamos conversando sobre esse filme há cerca de três anos. Então, ele me pediu para ser produtora e fiquei emocionada. Não sei se isso mudou alguma coisa em nossa dinâmica, porque estávamos conversando sobre tudo de qualquer maneira. Mas, definitivamente, foi ótimo sentir que eu tive uma participação extra [no projeto] quando se trata de Bella e dessa história.
Na entrevista, Lanthimos afirmou que a colaboração com Emma sempre é fluida e eles se comunicam com muita facilidade enquanto desenvolvem seus projetos em comum.
Nós nos conhecemos antes mesmo de fazer ‘A Favorita’, porque demorou alguns anos até filmarmos. Então, durante aquele período, nós nos tornamos mais próximos e conversávamos o tempo todo sobre o projeto e outras coisas. E quando fizemos ‘A Favorita’, ficou claro que nós simplesmente nos divertimos trabalhando juntos e que não precisávamos discutir demais as coisas. A gente conseguia se comunicar apenas com um aceno ou um gesto. Eu acho que isso criou muita confiança entre nós.
Colaboração portuguesa
A cantora portuguesa Carminho está na trilha sonora de “Pobres Criaturas” com faixa “O quarto (fado Menor)”. Ela também faz uma participação especial no longa, contracenando com Emma Stone. Em uma cena, Carminho encontra Bella e canta o tema enquanto toca guitarra portuguesa.
O Yorgos me convidou a participar do filme cantando um fado. Eu disse que achava a presença da guitarra portuguesa importante para enfatizar a linguagem do estilo musical. Ele então me desafiou a tocar [o instrumento] no set. Pedi uma semana para responder, sem lhe contar que eu nunca tinha tocado guitarra portuguesa na vida (risos). Pedi a um dos meus músicos que me ajudasse, ensaiei a semana inteira no meu quarto e, então, respondi que sim.
Sobre a escolha da música, Carminho diz que o é “algo primário e umbilical da cultura portuguesa. São apenas dois acordes e não existe uma melodia própria, que é criada pelo fadista ao interpretar o poema”.
Ele escolheu ‘O quarto’ pela temática algo bizarra, sobre uma pessoa que se sente aprisionada, sozinha, inspirando alguns momentos da personagem principal, mas também por ser de hoje, escrito por mim, desta geração. Tem uma transversalidade temporal que conversa com o próprio filme, utilizando referências de várias épocas. Uma música do século XIX com uma letra do século XXI.
O poema de Carminho acabou por ser gravado com outra música e melodia, tornando-se “O quarto (fado Pagem)” no seu mais recente álbum “Portuguesa”, indicado ao Grammy Latino 2023 na categoria Melhor Álbum de Raízes em Língua Portuguesa. Assista ao videoclipe da música:
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.