Cena do documentário "Mulheres Radicais" (2023) - Divulgação/Curta!
Cena do documentário "Mulheres Radicais" (2023) - Divulgação/Curta!

“Mulheres Radicais”: a história das artistas “descobertas” décadas depois de seus trabalhos pioneiros

Mulheres Radicais

Se as artistas plásticas ganham cada vez mais relevância na arte contemporânea, houve um período em que a produção feminina na América Latina, entre os anos 1960 e 1980, acabou silenciada por uma série de fatores. São várias autoras de trabalhos pioneiros que seguem praticamente desconhecidas. Ou melhor: seguiam. O documentário “Mulheres Radicais”, de Isabel De Luca e Isabel Nascimento Silva, propõe um novo capítulo na história da arte do século XX ao reunir a potência dessas artistas. O filme estreia com exclusividade no Curta!.

O ponto de partida do longa é a exposição Mulheres Radicais, que, entre 2017 e 2018, ocupou o Hammer Museum, em Los Angeles, o Brooklyn Museum, em Nova York, e a Pinacoteca de São Paulo, reunindo 127 artistas e coletivos de 15 países — entre figuras conhecidas, como a brasileira Lygia Clark, a cubana Ana Mendieta e a argentina Marta Minujín, e uma esmagadora maioria de artistas cujo trabalho começou a ser reconhecido e celebrado pela primeira vez. Filmado em Nova York e São Paulo, “Mulheres Radicais” promove encontros inéditos entre algumas das mais representativas artistas que participaram da mostra.



O documentário se estrutura a partir do conceito de rede. A primeira artista convidada — a paulistana Lenora de Barros — escolheu livremente outra para entrevistar; esta, por sua vez, elegeu uma terceira e assim por diante, numa corrente que nos leva a conhecer, por meio de conversas livres, a arte, o pensamento e os afetos dessas mulheres radicais, enquanto elas se conhecem e se reconhecem umas nas outras. A narrativa é ressaltada por uma ampla gama de imagens de arquivo: além de fotos e vídeos de acervo pessoal que ajudam a contar a história das 11 artistas contempladas, cerca de 400 trabalhos surgem na tela enquanto são comentados pelas autoras.

O filme revisita, no calor do presente, um período marcado pela emancipação das mulheres e seus corpos. O corpo político era essencial à obra das artistas latino-americanas na época retratada pelo documentário. Embora seus trabalhos se misturem a experiências de ditadura, prisão, exílio, tortura, violência, censura e repressão vinculadas à situação política, cultural e social vivenciada por grande parte do continente na época, eles também foram fundamentais para o surgimento de uma nova sensibilidade artística, como a performance e modalidades híbridas que mesclam dança, teatro, videoarte, entre outras.

Essas artistas, que contribuíram significativamente para a arte contemporânea, mas tiveram pouca atenção acadêmica e do mercado, não intencionaram fazer uma obra feminista, apesar de essa agenda hoje estar clara na produção. Muitas tiveram as carreiras interrompidas e só retomaram o ofício depois do processo de redescobrimento acelerado pela exposição. A relevância da obra dessas mulheres é sublinhada no documentário por depoimentos de curadoras como Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta, responsáveis pela mostra, e outras especialistas como a historiadora da arte brasileira radicada em Nova York Claudia Calirman e a colecionadora e curadora venezuelana Estrellita Brodsky, diretora-fundadora do Another Space, em Nova York.

“Assim como a exposição que o inspirou, ‘Mulheres Radicais’ é um projeto de recuperação histórica. E urgente: basta dizer que pelo menos dez das 127 artistas da mostra morreram no percurso da pesquisa. O filme apresenta personagens que foram apagadas da história da arte”, diz Isabel De Luca. “A maioria das artistas não tinha sequer conhecimento da existência das outras até que todas foram reunidas sob o mesmo holofote. E no documentário cada uma fala a língua que deseja, confluindo para a babel de idiomas, culturas, migrações e deslocamentos espaciais que configuram a experiência latino-americana”, completa Isabel Nascimento Silva.

“Mulheres Radicais” é uma produção da Hysteria — selo centrado em narrativas femininas formado por mulheres da Conspiração — viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). A produção executiva é de Isabel De Luca, Luisa Barbosa e Renata Brandão, e a produção associada, de Isabel Nascimento Silva e Maria Barreto.

A estreia no Curta! é no dia temático Terças das Artes, 12 de março, às 22h30. Horários alternativos: 13 de março, quarta-feira, às 2h30 e às 16h30; 14 de março, quinta-feira, às 10h30; 16 de março, sábado, às 15h.

Texto produzido pela assessoria do Canal Curta!.