Boas comédias românticas têm uma trilha sonora marcante. São vários os exemplos: “O Casamento do Meu Melhor Amigo” com as icônicas “I Say a Little Pray For You” e “The Way You Look Tonight”; “Uma Linda Mulher”, que tem a famosa canção “Pretty Woman”; “10 Coisas que Odeio em Você” com “Can’t Take My Eyes Off You”; “Um Lugar Chamado Notting Hill” com a clássica “She”… A lista é extensa e contém diversas músicas ilustres, o que deixa claro que uma canção marcante é um dos ingredientes que não podem faltar em uma comédia romântica relevante.
O Brasil é conhecido por ter diversos hits atemporais, dos mais variados estilos. Canções que atravessam gerações e que continuam presentes nas lembranças das pessoas por muitas e muitas décadas. Neste contexto, é válido se perguntar: “como nunca foi feito um filme com ‘Evidências’ como música principal na trilha sonora?” Pois bem, “Evidências do Amor” veio para preencher essa lacuna. A produção não só tem a famosa canção gravada por Chitãozinho & Xororó como música-tema, como a utiliza como ponto principal da trama.
A obra acompanha a história do casal vivido por Fábio Porchat (Marco Antônio) e Sandy (Laura). Eles se apaixonam na primeira vez em que se veem, em um karaokê, quando cantam juntos “Evidências”. Após três anos de muitos altos e baixos na relação, o casal decide terminar o namoro, mas o vínculo entre os dois não é encerrado, pois, toda vez que escuta a música, Marco automaticamente “viaja no tempo” para reviver a lembrança de cada discussão que teve com a ex. A partir daí, uma canção que era marcante positivamente para os pombinhos passa a se tornar uma angústia.
O início do longa já mostra o grande trabalho do diretor e roteirista Pedro Antonio (“Um Tio Quase Perfeito”) em apresentar ao público, seja ele jovem ou mais velho, a importância da música da dupla sertaneja na cena musical brasileira. É mostrado como a canção é popular nos karaokês, bares, almoço em família, cenas de novela e em qualquer ritmo, desde o funk ao rock. A introdução é necessária e importante para que quem está assistindo ao filme entenda o contexto da narrativa, compreenda o porquê da escolha da música para ser uma das personagens principais do roteiro e, também, apresenta o cenário para quem não conhece a canção.
Trazer elementos e personagens da cultura pop (brasileira ou internacional) também é essencial para enriquecer a história. A parte musical cumpre a função de apresentar ao público canções clássicas brasileiras, enquanto o lado que aborda a “viagem temporal” cita referências de outros filmes que falam do assunto, o que ajuda a expandir o conteúdo mostrado na tela.
Mas, apesar de todo o sucesso da música e da importância dela para a trama, é Fábio Porchat a estrela de “Evidências do Amor”. Não apenas por ser o protagonista, mas o ator brilha durante todo o filme. Ele apresenta suas melhores características como artista, com todo o seu carisma, humor, sagacidade e ironia, além de trejeitos caricatos que carrega desde o início da carreira. Com exceção de “Entre Abelhas” (2015), é normal achar que Porchat sempre interpreta o mesmo tipo de personagem, e isso acontece aqui. Mas a verdade é que, em time que está ganhando, não se mexe, não é mesmo? Carismático e um ótimo comediante, Porchat segue fazendo as pessoas rirem através de diálogos dos quais se apropria (ele também é creditado como roteirista do longa) e prova com talento que é um dos principais nomes do humor brasileiro. Na trama, o ator também consegue mostrar um lado dramático e romântico pouco explorado em seus trabalhos, mas que cativa de maneira verdadeira e leve, trazendo-o para dentro da história.
O outro lado do casal de “Evidências do Amor” é Sandy, que estava há cerca de 10 anos afastada do cinema e se dedicando apenas à música. A personagem Laura é apresentada como uma mulher dócil, meiga, inteligente, sensível, romântica… E cantora. Ou seja, não difere muito da imagem da artista no mundo real. Talvez seja por isso que o “gostinho de quero mais” pode surgir em quem assiste ao filme, pensando que Sandy poderia ter interpretado um papel diferente, com uma personalidade mais distinta da sua. A atuação dela não é ruim, mas poderia ser algo com mais brilho, mais intensidade e profundidade.
O roteiro de “Evidências do Amor” não é nada incrível ou surpreendente, mas cumpre o que promete. Pedro Antonio, Fábio Porchat e Luanna Guimarães utilizam a premissa da “viagem no tempo” de maneira muito objetiva e simples, sem arriscar em desenvolver diálogos e teorias complexas. A montagem também é essencial aqui, para que o público entenda onde está localizado na trama, sem gerar confusão. Além disso, a narrativa oferece ao protagonista uma jornada de amadurecimento encantadora e sensível. Após ver um homem egocêntrico, que não escuta sua parceira ou qualquer pessoa à sua volta, o público passa a enxergar um cara arrependido e apaixonado, em busca da redenção do seu grande amor.
O filme também investe na nostalgia e equilibra doçura e sensibilidade com o humor e a descontração presentes nas boas comédias românticas. Um trabalho que consegue amarrar o casal de protagonistas vivido por atores muito conhecidos pelo público a um elenco de apoio divertido e competente, com destaque para as atrizes Evelyn Castro e Larissa Luz.
“Evidências do Amor” cumpre bem o papel de comédia romântica sem negar as aparências e nem disfarçar as evidências. É o que ele se propõe a ser, sem enganar o espectador: um filme leve, com um roteiro coerente, conciso, divertido e que tem um elenco carismático. É o famoso “água com açúcar”, gostoso de assistir em um domingo à tarde, sem nenhuma pretensão. Tem romance na medida certa, que emociona a quem está assistindo e também deixa um aconchego no coração dos mais apaixonados. Em uma boa mistura, o drama é acrescentado de forma pontual na narrativa, trazendo diversas lições importantes, principalmente quando se trata de estar em um relacionamento amoroso. ■
filme as marvels
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EVIDÊNCIAS DO AMOR (2024, Brasil). Direção: Pedro Antonio; Roteiro: Pedro Antonio, Luanna Guimarães, Alvaro Campos, Fábio Porchat; Produção: Kevin Feige; Fotografia: Pedro Faerstein; Montagem: Zaga Martelletto; Música: Daniel Simitan; Com: Fábio Porchat, Sandy Leah, Evelyn Castro, Larissa Luz; Estúdio: Framboesa Filmes; Distribuição: Warner Bros.; Duração: 1h 30min.
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