"A Menina e o Pote" (2024), de Valentina Homem - Divulgação/Sempre Viva
"A Menina e o Pote" (2024), de Valentina Homem - Divulgação/Sempre Viva

Cannes 2024: Animação brasileira “A Menina e o Pote” estreia na Semana da Crítica

Mais um curta-metragem brasileiro participa da 77ª edição do Festival de Cannes. É a animação “A Menina e o Pote”, dirigida por Valentina Homem e produzido pela Sempre Viva, que terá exibição na Semana da Crítica. 

O curta tem temática ambiental e utiliza a técnica de pintura sobre vidro. A ideia do filme partiu de um conto escrito pela realizadora em 2012: uma parábola que nasceu de uma tentativa catártica de traduzir suas experiências do início da vida adulta. Na tela, uma menina que vive em um mundo distópico quebra o pote em que ela guarda um segredo. Isso abre portais para universos paralelos e a menina adentra um tempo de transformação em que a criação de um novo mundo é finalmente possível. 



De acordo com Valentina: “alguns dos símbolos que organizam a narrativa são metáforas de episódios bastante íntimos: o pote, o seu rompimento, o vazio que o preenchia, a perda de contornos, a busca por uma tampa e a integração final com o vazio dentro do pote. Anos depois, eu estava investigando a cosmogonia ameríndia e fazendo experiências com Plantas Sagradas Amazônicas, e percebi como a trajetória da Menina espelhava, de alguma forma, a de uma iniciação xamânica. Quando começamos a fazer o filme, decidi imbuir a história com símbolos que enraizassem a menina na cultura ameríndia.”

Valentina contou com a consultoria da antropóloga indígena Francy Baniwa, e o roteiro, além delas duas, teve a colaboração, também, de Nara Normande, Tati Bond e Eva Randolph. A história foi construída com referências à cosmologia Baniwa e também algumas influências da mitologia Yanomami, conforme descrito no livro seminal de Davi Kopenawa Yanonmi, “A Queda do Céu” — cuja adaptação para o cinema também participa de Cannes.

A realização do filme foi colaborativa durante todo o processo. Nara Normande (dos premiados “Guaxuma” e “Sem Coração”) foi a diretora de animação e Eva Randolph editou o filme. Tati Bond foi responsável pela direção artística e foi a única animadora do filme, assumindo a função de codiretora de Valentina.

A primeira exibição de “A Menina e o Pote” no Festival de Cannes será no dia 21 de maio.

"A Menina e o Pote" (2024), de Valentina Homem - Divulgação/Sempre Viva
“A Menina e o Pote” (2024), de Valentina Homem – Divulgação/Sempre Viva

Nheengatu e Amaronai

A protagonista do curta fala Nheengatu, ou Língua Geral, que se desenvolveu a partir de uma língua indígena de influência europeia no século XVI, e se tornou então a língua mais falada em território brasileiro. Posteriormente foi proibida, mas continuou sendo a língua principal de alguns grupos indígenas da região do Alto Rio Negro.

De acordo com Valentina, a Menina fala Nheengatu porque é a língua materna de Francy Baniwa e também pelas conexões que a diretora estabeleceu com a comunidade da antropóloga.

Por conta da parceria no filme, Francy e Valentina se tornaram colaboradoras em um projeto na aldeia natal da antropóloga, Assunção do Içana: AMARONAI – Dignidade Menstrual e Geração de Renda para Mulheres Indígenas, que está profundamente ligado simbólica e politicamente ao filme.

"A Menina e o Pote" (2024), de Valentina Homem - Divulgação/Sempre Viva
Divulgação/Sempre Viva

“O filme é fruto do nosso sonho coletivo: sonhar com a floresta, ser floresta – resgatar memórias ancestrais, que conservam também o que está por vir. As mitologias ameríndias, ao contrário do pensamento ocidental, não concebem um mundo sem nós, por isso penso no nosso tempo como uma era pré-cosmogónica, mas é urgente reflorestar os nossos imaginários – E espero que o filme possa ser um portal para uma futuro possível”, conclui a diretora.

Com informações da produtora Sempre Viva.