Com o avanço da criação cinematográfica através das décadas, não é exagero dizer que o suspense é um dos gêneros que mais permitiu grandes modificações e inserções com outras formas de contar histórias. As narrativas ainda podem manter a grandiosidade dos filmes de Hitchcock, mas também passaram a possuir cada vez mais artifícios para se incorporarem à fantasia e à ficção científica, criando obras com monstros cada vez mais “reais”.
Em seu longa de estreia, Ishana Night Shyamalan se utiliza justamente dessa mescla entre gêneros para adaptar a obra literária “Os Observadores”, do escritor irlandês A. M. Shine, para as telonas. Com apenas 23 anos, a diretora é filha de ninguém menos do que um dos grandes nomes do cinema mundial, M. Night Shyamalan, e mesmo que de maneira involuntária, ela carrega o tremendo desafio de encantar os espectadores já admiradores dos filmes de seu pai.
O diretor é conhecido por obras como “O Sexto Sentido” e “Sinais”, onde o sobrenatural ganha espaço diante da humanidade. É claramente seguindo seus passos que Ishana dirige “Os Observadores”.
No longa-metragem, Dakota Fanning interpreta Mina, uma mulher que, em meio a uma viagem de trabalho, se vê sozinha dentro de uma floresta na Irlanda. Lá, ela encontra três estranhos (interpretados por Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan) que dividem uma espécie de casa com uma grande janela, onde todas as noites os misteriosos “observadores” se colocam do outro lado para assistirem ao que aquelas pessoas fazem.
Emocionalmente distante e repleta de culpa por acontecimentos do passado, a protagonista do filme é uma representação já comum no cinema. Com ambições artísticas, insegura e indisponível socialmente, Mina já é o primeiro mistério com o qual o espectador se depara na obra. O segundo, é claro, diz respeito justamente aos seres que aprisionam o grupo ali e se deleitam com a possibilidade de encará-los através de um vidro fosco.
Na primeira metade de “Os Observadores”, Ishana consegue capturar a curiosidade do espectador e cria uma bela atmosfera de suspense. A câmera não mostra quem são os tais observadores e, assim como Mina e os personagens aos quais ela se junta, cada movimento e nova cena é uma busca por pistas que venham a revelar o grande mistério do filme.
É justamente quando essa resposta vai tomando forma e se aproximando de nossos olhos, que o longa acaba por se tornar uma obra expositiva sem profundidade, onde quase tudo construído no começo se torna dispensável e irrelevante. Categorizado como um filme de terror, o verdadeiro susto de “Os Observadores” é a falta de elementos surpresas realmente capazes de fazerem o espectador saltar da poltrona.
Com um roteiro fraco que passa tempo demais querendo mostrar seu grande diferencial – o que não acontece nunca –, a obra chega ao fim quase como um filme de aventura e fantasia medíocre, que não se sustenta nem pela aventura nem pela fantasia.
Apesar de decepcionar do meio para o final de sua duração, “Os Observadores” mostra potencial em seu começo e é instigante o suficiente em seu mistério. Tão nova no mundo da direção cinematográfica, fica claro que Ishana busca incorporar ao longa elementos semelhantes ao dos filmes de seu pai. Contudo, aqui eles não são bem trabalhados, deixando por desejar a magnitude de M. Night em dirigir o sobrenatural com expertise. Esta expertise, porém, pode ser construída com o tempo e, particularmente, eu desejo acompanhar as próximas obras da jovem cineasta. ■
filme os observadores
filme os observadores
OS OBSERVADORES (The Watchers, 2024, EUA). Direção: Ishana Night Shyamalan; Roteiro: Ishana Night Shyamalan (baseado no livro de A. M. Shine); Produção: M. Night Shyamalan, Ashwin Rajan, Nimitt Mankad; Fotografia: Eli Arenson; Montagem: Job ter Burg; Música: Abel Korzeniowski; Com: Dakota Fanning, Georgina Campbell, Olwen Fouéré, Oliver Finnegan; Estúdio: Blinding Edge Pictures, Inimitable Pictures; Distribuição: Warner Bros.; Duração: 1h 42min.
filme os observadores
filme os observadores
filme os observadores
Onde ver "Os Observadores" no streaming:
Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), pós-graduanda em escrita criativa e apaixonada pelo cinema, literatura e artes em geral. Passou pela Folha de Pernambuco, Revista O Grito e revista Continente como estágiaria, além de já ter contribuído para o jornal Suplemento Pernambuco.