"Moana 2" (2024) - Disney/Divulgação
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“Moana 2”: sol, mar, aventura e ancestralidade

“A busca por quem somos nunca se encerra”. A avó de Moana diz essa frase para a personagem quando ela está em um dilema sobre partir ou não para mais uma aventura. São palavras que expressam o ponto mais relevante e profundo do filme: a ancestralidade.

“Moana 2” acompanha a jovem em uma nova aventura pelos mares. Após três anos desde a última jornada marítima, um chamado de seus ancestrais leva a protagonista de volta para águas, agora acompanhada de um grupo improvável de marinheiros. Sua missão é quebrar uma maldição que um deus cruel e com sede de poder colocou sobre uma das ilhas de seu povo.

Assim como no filme de origem, a continuação consegue mostrar toda a força e importância da ancestralidade na vida da personagem. Moana (na voz de Auli’i Cravalho) agora é uma marinheira respeitada e admirada, mas, mesmo com sua experiência, a voz dos seus antepassados é quem a guia em momentos de dúvida. No longa, a garota permanece ligada espiritualmente com todos os que vieram anteriormente, demonstrando respeito e carinho a eles. Além disso, apesar das inseguranças, Moana sabe que a missão que seus ancestrais lhe passaram deve ser cumprida para o bem de todos. É inspirador ver a crença da jovem no propósito e sua ideia de que deve seguir seu destino para fazer valer os sacrifícios dos seus.



No longa de 2016, os diretores John Musker e Ron Clements realizaram um ótimo trabalho ao equilibrar elementos essenciais para construir uma animação atrativa para o público infantil, mas que também enchesse os olhos de uma geração um pouco mais velha. E apesar da mudança dos diretores, esta sequência cumpre novamente esse papel de forma efetiva. À frente do longa, David Derrick Jr, Dana Ledoux Miller e Jason Han unem personagens carismáticos, músicas divertidas e uma animação visualmente atraente a diálogos motivacionais e inspiradores, além de uma história envolvente.

O roteiro, escrito por novamente por Jared Bush (“Encanto”, “Raya: O Último Dragão”) e também por Dana Ledoux conta uma história coesa, redondinha, com começo, meio e fim, mas cheia de elementos que transformam um enredo básico em algo muito divertido. Em sintonia com o rico visual do filme, o roteiro exalta a beleza e as tradições de uma tribo encantadora. As suas músicas, danças, costumes e integrantes são adoráveis. Através desses elementos se torna mais fácil compreender a importância daquelas pessoas e daquele lugar para Moana e, assim, a empatia com a protagonista aumenta.

Novamente, a comunidade Motonui, com seus líderes e moradores, é uma personagem importante para o longa, mas não só isso: ela é uma personagem amada e admirada. Tudo o que é mostrado a respeito da cultura daquele povo desperta um desejo de quero mais, o que é essencial para criar uma ligação afetiva com o enredo.

E o que ajuda muito nessa conexão é a introdução dos novos personagens. Mesmo sendo divertido e emocionante acompanhar a amizade de Moana e Maui (Dwayne Johnson), a continuação precisava de novos nomes para que a protagonista conseguisse ter outras interações e demonstrar seu amadurecimento. Os novos companheiros de aventuras marítimas da jovem são carismáticos, com personalidades fortes e papéis importantes para o enredo. Nenhum deles foi adicionado apenas para ser “mais um”.

Mas o destaque principal vai para a irmã da protagonista. Além da diversão, Simea (Khaleesi Lambert-Tsuda) traz doçura e encanto para o filme. A relação de amor entre as duas é emocionante e a nova personagem é essencial para mostrar novas inseguranças e motivações de Moana.

Para não dizer que tudo são flores, um ponto negativo é que os vilões não são bem desenvolvidos. Matangani (Nicole Scherzinger), com todo o seu mistério, poderia ter sido melhor apresentada. A sua motivação é dita de maneira breve e dá a sensação de que há algo mais ali. O mesmo acontece com o outro vilão, um deus maléfico que joga um feitiço nos mares e amaldiçoa diversas tribos que ali vivem.

“Moana 2” começou a ser desenvolvido para integrar o catálogo do Disney+ em forma de série. Mas conforme a produção foi avançando e tomando proporções maiores, a decisão foi alterada e o longa chegou aos cinemas. O motivo da mudança é claro: visualmente, a animação foi construída para ser um espetáculo visto na telona. Inclusive um espetáculo musical, com canções “chicletes” e números bem apresentados, tudo com um motivo plausível para acontecer.

O figurino dos personagens também salta aos olhos, com destaque para as roupas dos integrantes da tribo de Moana. Enquanto eles dançam, é possível ver a leveza dos panos, que se movem a cada novo passo, tornando tudo ainda mais encantador. Os itens que compõem o visual da ilha são nítidos e ajudam a deixar a impressão de que aquele espaço é um lugar perfeito para se viver. O céu mostra as luzes intensas das estrelas à noite e a vivacidade do sol pela manhã, que se une à claridade das águas e às cores vibrantes das árvores e plantas, tornando o cenário lindo e convidativo.

E, mais uma vez, o mar (que assim como no primeiro filme é um personagem essencial para a jornada de Moana) é um espetáculo à parte. Ele é o destaque em todas as suas aparições, e trazer para a sequência a cena do oceano se dividindo para que a protagonista passe entre ele e mostre sua beleza foi um acerto. As texturas, a coloração, os cenários, o visual da jovem… Todo o visual da animação é estonteante, surpreendendo quem acreditava que não era possível este filme ser ainda mais belo que o primeiro.

A animação de 2016 é um sucesso até hoje e é incrível ver como uma produção, oito anos depois, segue sendo tão atual, divertida e empolgante. “Moana 2”, além de respeitar todo o legado do longa de origem, traz para o público ainda mais ação, beleza visual e carisma. E claro, a admiração pela protagonista só fez crescer. É reconfortante ver uma personagem tão potente no catálogo de princesas da Disney (como Maui diz no longa, “ela é sim uma princesa!”). Moana é tão confiante em seus propósitos e destino, que facilmente encanta e convence qualquer um a partir em uma aventura marítima com ela. Uma verdadeira líder, cheia de carisma, doçura, alegria e determinação. ■

Nota:

MOANA 2 (2024, EUA). Direção: David Derrick Jr., Jason Hand, Dana Ledoux Miller; Roteiro: Jared Bush, Dana Ledoux Miller; Produção: Christina Chen, Yvett Merino; Fotografia: John Mathieson; Montagem: Claire Simpson, Sam Restivo; Música: Mark Mancina, Opetaia Foaʻi; Com: Auliʻi Cravalho, Dwayne Johnson, Hualālai Chung, Rose Matafeo, David Fane, Awhimai Fraser, Khaleesi Lambert-Tsuda, Temuera Morrison, Nicole Scherzinger, Rachel House, Gerald Ramsey, Alan Tudyk; Estúdio: Walt Disney Animation Studios; Distribuição: Disney; Duração: 1h 40min.

Onde ver "Moana 2" no streaming: