“Wicked” e a magia de conseguir olhar além das aparências

"Wicked" (2024), de Jon M. Chu - © Universal Pictures
"Wicked" (2024), de Jon M. Chu - © Universal Pictures

Quando eu entrei no cinema para assistir a “Wicked”, eu já esperava acompanhar um espetáculo musical. Mas o que eu encontrei foi muito além de uma superprodução com figurinos, coreografias e afinações impecáveis. O enredo do filme foi o ponto-chave para a minha conexão com o longa-metragem. Sua mensagem emociona e serve de guia para apurar nosso olhar, principalmente em meio a tantos “cidadãos de bem” em nossa sociedade, que defendem valores morais, mas que, quando olhamos um pouco mais de perto, entendemos que esses supostos valores não passam de interesses individuais. Em um mundo em que cada dia mais as aparências ditam os reais valores, “Wicked” chega como uma verdadeira fábula em que somos convidados a enxergar além do superficial.

Retornamos ao mundo mágico de Oz e conhecemos a famosa Bruxa Má do Oeste, ou melhor Elphaba Thropp (Cynthia Erivo, de “Harriet – O Caminho para a Liberdade”), e Glinda, a Boa (vivida pela cantora pop Ariana Grande). Encontramos as duas em sua juventude, enquanto ainda estudavam e se preparavam enquanto feiticeiras.

O enredo é o mesmo do famoso musical da Broadway, inspirado no livro de Gregory Maguire que, por sua vez, é baseado no clássico de L. Frank Baum. Sim, é uma história prequel — e dividida em duas partes. A segunda só vai ganhar as telonas no final de 2025.



O longa traz o melhor dos mundos quando pensamos em musicais que vieram de produções da Broadway, com canções bem feitas e coreografias milimetricamente ensaiadas. Apesar do excesso de músicas, elas casam bem tanto com os momentos cômicos quanto com os dramáticos.

O diretor Jon M. Chu (“Em um Bairro de Nova York”, “Podres de Ricos”) acerta ao trabalhar os efeitos visuais e a iluminação, brincando com os tons de verde e rosa que representam as personagens principais. O elenco também se torna um show à parte, com belíssimas atuações de Ariana Grande e Cynthia Erivo, que nos emocionam e nos fazem entrar de cabeça no mundo e na personalidade de suas bruxas. O filme também presta uma bonita homenagem ao espetáculo dos palcos com as participantes do elenco original, Kristin Chenoweth e Idina Menzel.

Em “Wicked”, a abordagem de tantos assuntos como amizade, paixão, ódio, inveja, vaidade e rivalidade acontece de maneira sutil, mas ao mesmo tempo profunda. Isso nos conecta ainda mais com a narrativa e traz identificação aos sentimentos vividos pelas protagonistas. Nós torcemos para que nasça daí uma troca genuína entre elas, o que acontece por um curto espaço de tempo. Ao trazer tantas camadas que muitas vezes são ignoradas na sociedade, como o ódio e a inveja, o roteiro adaptado por Winnie Holzman e Dana Fox humaniza as diferenças e traz uma lição valiosa. Afinal, toda história tem dois lados e, muitas vezes, não existem vilãs.

“Wicked” é, de certo modo, uma grata surpresa. Com tantas superproduções vazias de significado, a obra consegue ir além, entregando belas canções e momentos divertidos, além de fazer pensar sobre o mundo de aparências e como o superficial muitas vezes é incentivado, principalmente nas redes sociais entre os jovens. É, também, um convite a pensar no que está acontecendo na política global e no constante avanço de pensamentos moralistas. ■

filme wicked

Nota:

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WICKED (2024, EUA). Direção: Jon M. Chu; Roteiro: Winnie Holzman, Dana Fox (baseado no musical de Stephen Schwartz e no livro de Gregory Maguire); Produção: Marc Platt, David Stone; Fotografia: Alice Brooks; Montagem: Myron Kerstein; Música: John Powell, Stephen Schwartz; Com: Cynthia Erivo, Ariana Grande, Jonathan Bailey, Ethan Slater, Bowen Yang, Marissa Bode, Peter Dinklage, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum; Estúdio: Universal Pictures, Marc Platt Productions; Distribuição: Universal Pictures; Duração: 2h 40min.

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