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“Mufasa: O Rei Leão” é aventura agradável para fãs da franquia de animação

"Mufasa: O Rei Leão" (Mufasa: The Lion King, 2024), de Barry Jenkins - © The Walt Disney Company

© The Walt Disney Company

Clássicos são intocáveis? Se for para fazer um bom trabalho, o risco de dar uma nova roupagem é válido. E é o que acontece em “Mufasa: O Rei Leão”.

O filme original da franquia é uma das animações da Disney mais amadas pelo público e também pela crítica. A produção de 1994 ainda hoje é tida como exemplo de bom roteiro, personagens carismáticos e bem desenvolvidos, canções envolventes e técnicas de animação impecáveis. Por isso, quando o remake estreou, em 2019, o receio de estragar um clássico foi um dos assuntos mais comentados. E após o lançamento, ainda restou o questionamento se o resultado final foi positivo. Agora, cinco anos depois, a Disney decide mexer mais uma vez em um vespeiro que poderia trazer muita insatisfação. Mas o estúdio provou o contrário.

O prólogo de “Mufasa: O Rei Leão” traz para as telas a história de Mufasa (na voz de Aaron Pierre) e seu irmão Scar (Kelvin Harrison), ainda quando filhotes. Com a ajuda de Rafiki, Timão e Pumba (John Kani, Billi Eichner e Seth Rogen), a lenda é contada à jovem filhote Kiara, filha de Simba e Nala. A narrativa construída através de flashbacks apresenta Mufasa como um filhote órfão, perdido e sozinho até que ele conhece um simpático e amigável leão chamado Taka, herdeiro de uma linhagem real (e que mais tarde será conhecido como Scar). O encontro dá início a uma grande aventura protagonizada pelos personagens já conhecidos pelos fãs da franquia.

"Mufasa: O Rei Leão" (Mufasa: The Lion King, 2024), de Barry Jenkins - © The Walt Disney Company
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O longa acumula diversos acertos, a começar pela escolha do diretor. E não é por acaso: Barry Jenkins assume a principal cadeira da produção trazendo em seu currículo filmes como “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (2016) e “Se a Rua Beale Falasse” (2018). Não podendo criar um enredo do zero, sem restrições, como faz na maioria de suas obras independentes, em “Mufasa: O Rei Leão” Jenkins teve a oportunidade de manter características já conhecidas dos personagens, mas com a possibilidade de explorar novos aspectos. Isso acontece não só com a dupla de protagonista e antagonista, mas também com coadjuvantes, como Rafiki e Zazu (Preston Nyman).

O início do filme é mais um ponto a favor para a direção e o roteiro, assinado por Jeff Nathanson (presente também no longa de 2019). A história começa com nomes que já são queridos: Simba (Donald Glover), Timão e Pumba. Lidar com nomes já consolidados e amados na cultura pop é uma vantagem, porém, ao invés de apenas manter o básico, Nathanson opta por acrescentar pontos interessantes à história de cada um. Isso faz com que o filme não seja só mais do mesmo.

O roteiro e a montagem trabalham de uma forma que funciona perfeitamente com as apresentações dos flashbacks. Toda vez que saímos do tempo presente, onde Timão, Pumba e Rafiki contam a lenda de Mufasa e Scar para Kiara, o interesse pelo que vem a seguir aumenta. O próprio trio, em diálogos bem humorados, instiga a curiosidade acerca da continuidade da trama.

Entre os nomes já recorrentes, Timão e Pumba entregam novamente carisma e muitas falas engraçadas, inclusive com comentários ácidos acerca de algumas escolhas da Disney sobre a consolidada história da franquia. E Rafiki, seja quando está narrando a lenda para Kiara ou quando aparece pela primeira vez no caminho do protagonista, transmite sabedoria e espiritualidade, deixando claro porque é um nome tão importante neste universo.

"Mufasa: O Rei Leão" (Mufasa: The Lion King, 2024), de Barry Jenkins - © The Walt Disney Company
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Outro destaque é, claro, a relação de Mufasa e Scar. Durante todos esses anos, foi mostrado ao público que o irmão do Rei era dono de uma personalidade invejosa, negativa e rancorosa. Mas quando Taka é apresentado neste filme, é como se todas essas características fossem apagadas. O que está ali é um jovem leão aventureiro, engraçado e parceiro, que está em busca de atos de coragem para impressionar seu pai. E desde o momento em que o caminho dele se cruza com o de Mufasa, o filme apresenta uma bonita relação de irmandade, com altos e baixos, mas com um sempre se divertindo com o outro. O roteiro acerta muito ao mostrar os dois nessa sintonia, pois quando acontece o plost twist da trama, o sentimento de traição ecoa para fora das telas.

Assim como em “O Rei Leão” de 2019, a natureza é apresentada de forma deslumbrante, com riqueza de texturas e detalhes realistas. Os animais, as paisagens e tudo mais que faz parte daquela grande savana africana são novamente encantadores. Aliás, um dos pontos comentados negativamente sobre o filme de Jon Fraveau foi a falta de expressão dos animais feitos em CGI (computação gráfica), em contraste com a animação tradicional original. E resolvendo este problema, em “Mufasa” os personagens transmitem mais claramente sentimentos de alegria, tristeza, raiva, amor e medo.

O novo filme também acerta ao nos apresentar o vilão Kiros. Dublado por Mads Mikkelsen, ele é o tipo de personagem essencial para fazer a trama acontecer, afinal, os irmãos só saem juntos em uma aventura porque estão fugindo dele. O leão branco é assustador e, mesmo não mostrando cenas densas de suas lutas, é possível imaginar o que ele faz com seus adversários para acabar com eles. E isso causa medo, assim como a relação que ele tem com o seu bando. Imponente e destemido, o líder é a representação do perigo e da vingança.

“Mufasa: O Rei Leão” peca em uma coisa: o final. Durante o filme, são apresentados tantos detalhes que a conexão com os personagens e com o enredo se torna possível, mas o terceiro ato é muito corrido e pontos importantes são revelados de maneira rápida, sem a emoção que se espera. Um exemplo? A solução que o roteiro encontra para mostrar como Taka se torna Scar é compreensível, mas é mostrada de um jeito seco e muito simples. Talvez, com mais 10 minutos de longa, esse problema fosse resolvido e a história ficaria mais completa.

Mas, no geral, “Mufasa: O Rei Leão” é redondinho. Todos os personagens são interessantes, o visual é incrível e as cenas musicais enriquecem a trama. Apesar dos arcos dramáticos com perdas, discriminação e outros tópicos sensíveis, o longa não é sombrio. Trata-se de um filme sutil e dramático, mas com pitadas de humor ideais para uma produção da Disney. Não é uma receita nova, mas Barry Jenkins consegue adicionar ingredientes que deixam o prato original ainda mais agradável para degustação. ■

"Mufasa: O Rei Leão" (Mufasa: The Lion King, 2024), de Barry Jenkins - © The Walt Disney Company
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Nota:

MUFASA: O REI LEÃO (Mufasa: The Lion King, 2024, EUA). Direção: Barry Jenkins; Roteiro: Jeff Nathanson; Produção: Adele Romanski, Mark Ceryak; Fotografia: James Laxton; Montagem: Joi McMillon; Música: Dave Metzger, Nicholas Britell (instrumental), Lin-Manuel Miranda (canções); Com: Aaron Pierre, Kelvin Harrison Jr., Seth Rogen, Billy Eichner, Tiffany Boone, Donald Glover, Mads Mikkelsen, Thandiwe Newton, Lennie James, Anika Noni Rose, Blue Ivy Carter, Beyoncé Knowles-Carter; Estúdio: Walt Disney Pictures; Distribuição: Disney; Duração: 1h 58min.

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