Depois de duas trilogias icônicas de Peter Jackson, “O Senhor dos Anéis” (2001-2003) e “O Hobbit” (2012-2014), e da recente série “Os Anéis de Poder”, o universo da Terra-Média ganha uma nova expansão com a animação “O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim” (2024). A mitologia criada por J.R.R. Tolkien já havia sido representada em animações anteriormente em “O Senhor dos Anéis”, de 1978, e “O Retorno do Rei”, de 1980. O novo longa, do diretor japonês Kenji Kamiyama, explora a estética do anime, propondo um drama épico de guerra, com uma narrativa bem amarrada tanto como unidade quanto nos pontos que nos conectam à franquia de filmes de live-action.
A história se passa mais de dois séculos antes dos eventos da trilogia original e acompanha Hèra (voz de Gaia Wise), filha do rei Helm (Brian Cox), de Rohan. Em sua jornada, ela precisa proteger seu povo das ameaças do vilão Wulf (Luca Pasqualino), que busca vingar a morte de seu pai. A trama, permeada por temas de honra, vingança e lealdade, revela a origem do nome da fortaleza “Abismo de Helm”, cenário memorável de “As Duas Torres” (2002), além do reino de Rohan e a torre de Isengard. Reconhecemos também a trilha sonora com melodias de “O Senhor dos Anéis”, e as vozes dos personagens Éowyn (Miranda Otto), que narra a história de seus ancestrais, e também de Saruman (Christopher Lee, com gravações antigas do ator interpretando o personagem).
A grande força narrativa do filme reside em sua capacidade de equilibrar o tom épico com o desenvolvimento de personagens e a mitologia da Terra-Média. A animação consegue apresentar com clareza a relação política entre os reinos, as motivações profundas dos personagens e uma abordagem épica das cenas de guerra. Ao contrário da produção recente, a série “Os Anéis de Poder”, que se perde em arcos e núcleos narrativos dispersos, “A Guerra dos Rohirrim” encontra um ritmo eficaz, combinando as tensões políticas, batalhas e a vingança pessoal e honra familiar.
O protagonismo de Hèra é outro destaque. Pela primeira vez em um filme da franquia, uma mulher lidera a história com uma presença marcante que se destaca pela coragem, inteligência e força emocional. Em contraponto, Wulf, o antagonista, é movido por um desejo de vingança e age de forma inconsequente, o que o torna imprevisível e perigoso. Essa oposição entre racionalidade e emoção gera um atrito interessante ao longo do filme, refletindo a luta interna de ambos os personagens.
Em relação ao contexto histórico da Terra-Média, “A Guerra dos Rohirrim” também traz à tona a figura do rei Helm, com uma presença grandiosa no filme, que explora a origem do nome da fortaleza, juntamente com mitos e lendas sobre fantasmas e o sobrenatural, remetendo ao exército de Dunharrow visto em “O Retorno do Rei” (2003).
Com a fotografia deslumbrante e cenas de batalha intensas e dinâmicas, o filme tem uma direção que aproveita a estética do anime para trazer um olhar sensível para o universo de Tolkien. A animação é repleta de momentos visuais marcantes, que capturam a beleza dos cenários da Terra-Média, em uma atmosfera épica e dramática, retomando a sensação de nostalgia para os fãs da franquia.
“O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim” é uma ótima experiência, com um pouco mais de duas horas de duração, que consegue manter um ritmo consistente, com o suficiente espaço para desenvolvimento de personagens, conflitos, ação e mitologia, em uma narrativa épica digna do universo de “O Senhor dos Anéis”. ■
O SENHOR DOS ANÉIS: A GUERRA DOS ROHIRRIM (The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim, 2024, EUA, Japão). Direção: Kenji Kamiyama; Roteiro: Jeffrey Addiss, Will Matthews, Phoebe Gittins, Arty Papageorgiou; Produção: Philippa Boyens, Jason DeMarco, Joseph Chou; Música: Stephen Gallagher; Com: Brian Cox, Gaia Wise, Luke Pasqualino, Miranda Otto; Estúdio: New Line Cinema, Warner Bros. Animation, Sola Entertainment, WingNut Films; Distribuição: Warner Bros.; Duração: 2h 14min.