"Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" (2024), de Fernando Fraiha - Foto: Fábio Braga
Foto: Fábio Braga

“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”: um lembrete para ser criança

Com toda a certeza, nós estamos vivendo a era das adaptações em live-action. É difícil pensar em alguma história que fez parte das nossas infâncias que já não tenha sido adaptada ou que não tenha a previsão de ganhar as telonas na versão “carne e osso”. E isso não é diferente no universo criado nos quadrinhos por Mauricio de Sousa. Depois dos longas “Turma da Mônica: Laços” (2019), “Turma da Mônica: Lições” (2021) e “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” (2024), finalmente temos um filme protagonizado por um personagem que não faz parte do núcleo central do Limoeiro, mas que é tão querido quanto Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali: o Chico Bento.

Em “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, dirigido por Fernando Fraiha (de “La Vingança” e “Bem Vinda, Violeta!”), nós acompanhamos um “causo” do personagem (interpretado por Isaac Amendoim) que vive na Vila da Abobrinha e é apaixonado pela vida no interior. Como o título já antecipa, a trama gira em torno especificamente de uma goiabeira que é mais do que especial e se entrelaça com a história de Chico Bento, desde antes de seu nascimento.

O início da narrativa mostra o desejo de grávida que Dona Cotinha (Lívia La Gatto) sente por goiaba e a tradição da família de plantar uma árvore a cada novo nascimento. No caso da chegada de Chico, foi escolhida a semente da goiabeira que voou e se perdeu pela Vila da Abobrinha, até se assentar na terra de Nhô Lau (Luis Lobianco).



"Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" (2024), de Fernando Fraiha - Foto: Fábio Braga
Foto: Fábio Braga

Apesar dessa ligação, Chico Bento e seu primo Zé Lelé (Pedro Dantas) enfrentam percalços para apanhar as frutas da goiabeira. A partir disso, vemos nascer o que o protagonista chama de uma grande amizade com Nhô Lau, mas que está mais para a tentativa frustrada do fazendeiro de afastar os garotos de sua propriedade. Este momento dá o tom que os quadrinhos têm, de trazer a brincadeira para o centro da história, com as famosas estripulias de criança.

Toda a diversão de Chico Bento e Zé Lelé termina quando o Dotô Agripino (Augusto Madeira) convence os moradores da vila da necessidade de asfaltar o local e, para isso, passar por cima da goiabeira. Para evitar a tragédia, todas as crianças da vila se unem para convencer os adultos que tem coisa errada aí. Com uma premissa sem furos, o roteiro acerta em trazer uma mensagem um pouco mais forte do que apenas a importância da amizade, como já foi visto nos demais longas da Turma da Mônica.

Mesmo que o público-alvo de “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” sejam as crianças, o longa pode gerar reflexão em qualquer adulto. Pautas ambientais nunca se fizeram tão urgentes como nos dias de hoje. O desmatamento e a urbanização se tornam um pano de fundo para a aventura e levanta questões, como  o “vale tudo” pelo progresso e o nosso respeito com a natureza — indagações essas que devem ser internalizadas pelas crianças, mas não somente por elas. O filme se torna uma verdadeira aula do pensamento que busca integrar a natureza e o ser humano como um só.

"Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" (2024), de Fernando Fraiha - Foto: Fábio Braga
Foto: Fábio Braga

Com uma caracterização fiel e muito bem-feita, nós vemos e sentimos a encarnação de Chico Bento pelo estreante e carismático Isaac Amendoim, que dá vida, corpo e voz ao personagem de maneira espontânea e com tremenda naturalidade. O restante do elenco infantil também dá um show, além das belas participações de Débora Falabella e Taís Araújo, que vivem a Professora Marocas e a Dona Goiabeira, respectivamente. Assim como nos demais filmes da turminha, a caracterização quase literal dos quadrinhos deixa o mundo ainda mais mágico. Por mais caricato que o visual do filme às vezes pareça, trata-se de uma escolha que realmente faz os quadrinhos tomarem forma na tela de maneira sincera.

Além das diversas mensagens importantes e necessárias que o longa passa, o que deixa “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” ainda mais especial é a conexão que ele cria com o sentimento único e transformador de nos fazer lembrar de como é bom ser criança. Nisso, o filme acerta como poucos em expressar a inocência e a imaginação que só na infância somos capazes de sentir. ■

Nota:

CHICO BENTO E A GOIABEIRA MARAVIOSA (2025, Brasil). Direção: Fernando Fraiha; Roteiro: Elena Altheman, Fernando Fraiha, Raul Chequer (baseado nos quadrinhos de Maurício de Sousa); Produção: Bianca Villar, Daniel Rezende, Fernando Fraiha, Karen Castanho, Marcio Fraccaroli, Marcos Saraiva; Fotografia: Gustavo Hadba; Montagem: Daniel Weber; Música: Fabio Goes; Com: Isaac Amendoim, Pedro Dantas, Anna Julia Dias, Lorena de Oliveira, Davi Okabe, Guilherme Tavares, Enzo Henrique, Augusto Madeira, Luis Lobianco, Lívia La Gatto, Débora Falabella, Guga Coelho, Taís Araújo; Estúdio: Biônica Filmes, Paris Entretenimento, Mauricio de Sousa Produções, Paramount Pictures; Distribuição: Paris Filmes; Duração: 1h 30min.

Onde ver "Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" no streaming: