O filme “Kasa Branca”, dirigido por Luciano Vidigal, foi destaque no circuito de festivais nacionais e internacionais em 2024 e tem feito sucesso no circuito comercial desde a sua estreia, em 30 de janeiro. No Festival do Rio, a produção recebeu os prêmios de Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora. Vidigal se tornou o primeiro diretor negro a vencer na categoria principal de longa de ficção do evento carioca.
Inspirado em uma história real, “Kasa Branca” acompanha Dé (Big Jaum), morador da periferia de Chatuba, que passa a viver com a avó Dona Almerinda (Teca Pereira), diagnosticada com Alzheimer. Ao lado dos amigos Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), Dé busca aproveitar os momentos com a avó.
Vidigal, que codirigiu “5x Favela: Agora por Nós Mesmos” e “Cidade de Deus: 10 Anos Depois”, faz sua estreia na direção solo de um longa-metragem de ficção. O cineasta destaca a importância de um filme produzido e protagonizado por pessoas negras da periferia, ressaltando a busca por uma maior representatividade no audiovisual brasileiro.
É um filme que tem um protagonismo negro no lugar do objeto, que são os atores, no lugar do sujeito, eu como diretor. Então, você tem a figura preta ali como protagonista no elenco e também na criação. E a gente que faz cinema independente, cinema preto, busca essa relação horizontal com o audiovisual brasileiro. E sempre no objetivo de somar, de trazer essa diversidade potente e cultural que tem o nosso país.
Grande elenco e repercussão
O elenco de “Kasa Branca” conta com Gi Fernandes, que estreia em longas-metragens, além de Babu Santana, Roberta Rodrigues, Otavio Müller e Guti Fraga. O filme também marca a estreia do rapper L7nnon e do DJ Zullu no cinema.
A estreia internacional do longa ocorreu no Festival de Torino, na Itália, e o filme também integrou a programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. No Brasil, foi exibido ainda no 17° Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul e no Festival Janela Internacional de Cinema do Recife, onde recebeu o Prêmio João Carlos Sampaio para Filmes Finíssimos que Celebram a Vida.
Em novembro, “Kasa Branca” foi o grande vencedor da 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, conquistando o Prêmio Mistika e DOT, além do Prêmio do Público na Mostra Competitiva. O filme também passou pelo Fest Aruanda, Festival de Brasília, Mostra de Petrópolis e Mostra de Tiradentes.
Da favela para a tela
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O diretor Luciano Vidigal é cria da favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. Ele já atuou em mais de 40 filmes e dirigiu, entre outros, um dos episódios de “5X Favela Agora Por Nós Mesmos” — filme que participou do Festival de Cannes de 2010. Seu cinema tem a marca de sua vivência e experiências, que há duas décadas ele leva para todos os cantos do mundo.
O primeiro filme de Vidigal foi “Neguinho e Kila” (2005), que conta a história dos personagens homônimos, adolescentes de 13 anos e 14 anos, respectivamente. Na trama, eles descobrem o primeiro amor, vivendo uma história de esperança em uma favela carioca.
A rotina na periferia também é tema de “Lá do Alto” (2016), curta exibido em vários festivais. O filme acompanha um menino sonhador que tenta convencer seu pai a conhecer o alto de uma montanha, na favela do Vidigal, que ele acredita ficar perto do céu, para poder se comunicar com sua avó, de quem ele sente saudades.
Durante a pandemia de Covid-19, Vidigal dirigiu “Janelas Daqui” (2020) ao lado de Arthur Sherman, que assina a direção de fotografia de “Kasa Branca”. O curta documental traz críticas, poesias e reflexões enquanto acompanha, de uma janela, as vidas na favela do Vidigal durante o período de emergência sanitária.
Em sua parceira com a produtora Cavídeo, Vidigal participou da direção de dois documentários que estão disponíveis gratuitamente no YouTube. “Funk Brasil: Cinco Visões do Batidão” (2016) aborda as diversas mudanças que o funk passou ao longo dos anos, trazendo depoimentos de artistas como Rômulo Costa (Furacão 2000), Marcão (Cash Box), MC Magalhães, Menor do Chapa e Lexa, que contam suas trajetórias, dificuldades e conquistas com a música.
Já “Copa Vidigal” (2010) traz o poder da união de uma comunidade ao relembrar a guerra entre os traficantes dos morros do Vidigal e da Rocinha, em 1997, que complicou a vida dos moradores. O filme mostra como o professor Cypa organizou um campeonato de futebol de favelas, com o objetivo de unir as pessoas através do esporte.