Em entrevista com a jornalista Flávia Guerra, no final da Berlinale 2020, ela usou uma expressão que até hoje me impacta: referindo-se à quantidade de filmes brasileiros no festival, ela rebatizou a Berlinale como “Brasinale”. Aquela declaração se tornou épica e se adapta muito à Berlinale versão 2025.
Tudo novo de novo
A diretora americana Tricia Tuttle foi muito aplaudida na cerimônia de entrega dos Ursos. Considerando a duração e intensidade dos aplausos, quando foi chamada ao palco, interpreta-se que o público berlinense lhe deu um super voto de confiança, eu diria até mesmo uma Carte Blanche. Se a personalidade nada extrovertida de Tuttle irá se adaptar a um festival de público como a Berlinale, só o tempo irá dizer.
Mostra Competitiva
Em todos os grids, inclusive da revista Screen e do portal Cinema7Arte, as notas para os filmes que concorreram aos Ursos de Ouro e de Prata foram muito baixas: tiveram uma média de duas estrelas.
A Mostra Competitiva vem sofrendo de uma crise de identitdade desde os últimos anos da gestão de Dieter Kosslick, que terminou em 2019.
Os cinco anos (2020-2024) do italiano ex-diretor do Festival de Locarno, Carlo Chatrian, tornaram os problemas da Mostra Competitiva ainda mais graves e mais profundos com sua notória teimosia em dar über-destaque a filmes europeus, na rotação França, Itália, Alemanha, Alemanha, França, Itália, rompendo com uma tradição de décadas da Berlinale em lançar diretores de países sem uma história tradicional de cinema.
Falta tudo na mostra de maior prestígio: uma curadoria meticulosa e uma balança entre a relevância da arte, o peso do mercado e da indústria, sem esquecer do popular.
A nova diretora tem a chance de arrumar a casa e trazer coerência para as diversas mostras, mas principalmente para a competição que é o cartão de visitas da Berlinale. A escolha do filme de abertura de 2025, do diretor Tom Tykwer, foi um erro crasso, mas um tropeço aqui e ali faz parte do início de percursos.
Alinhavando o que a super querida Flávia Guerra disse em 2020 e que se manteve atual em 2025, o melhor filme da competição foi “O Último Azul”, do diretor pernambucano Gabriel Mascaro. Ademais, outras 12 obras do cinema brasileiro brilharam nas diversas mostras da Berlinale, somado à mudança proporcionada pela nova direção, trazendo um burburinho, um clima de eletricidade que podia-se sentir nas salas de cinemas e durante as sessões de Q&A.
Finalmente, a Berlinale retomou a sua temperatura ambiente. A gente estava com saudades! Por nenhuma coincidência, o cinema brasileiro teve grande participação nisso. Foi um acumulado de aspectos positivos, numa reação em cadeia.
Final de vitória
Na cerimônia de entrega dos Ursos, a equipe de Gabriel Mascaro estava sentada na quinta fileira do lado esquerdo do Berlinale Palast. Poucas fileiras atrás, eu podia sentir a ansiedade do grupo. Quanto mais avançava a premiação, mas inquietos nas cadeiras eles ficavam.
O penúltimo e segundo prêmio mais importante do festival, o Grande Prêmio do Júri, foi anunciado e o premiado foi “O Último Azul”. O clima de premiação já estava no ar, medindo a reação da plateia nas exibições, sempre acompanhadas pelo elenco prestigioso, começando pelo nosso embaixador em Hollywood, Rodrigo Santoro.
E por falar em Hollywood, a premiação do filme brasileiro na Berlinale, uma semana antes da vitória de “Ainda Estou Aqui” no Oscar, pareceu de uma meticulosidade ímpar. Em minha entrevista exclusiva com Rodrigo e Gabriel para o cinematório, ambos asseguraram torcida fechada para Fernanda Torres e o filme de Walter Salles.
Muito típico para o momento atual da Berlinale é que a edição de 2025 terminou sem data marcada para a edição de 2026. Work in progress, literalmente.
Berlinale 2025: a volta da Brasinale
Berlinale 2025: a volta da Brasinale
Berlinale 2025: a volta da Brasinale