Há alguns gêneros de filmes que, só de bater o olho, é possível identificar do que se trata. É o que acontece com filmes de ação que carregam clichês em tramas de vingança. A fórmula é estruturada já nos primeiros 10 minutos, quando nós conhecemos o protagonista e a pessoa que sofrerá algum mal na história. O roteiro já estabelece nesse início a relação principal e mostra ao espectador o quanto o protagonista ama aquela pessoa, para então afirmar que ele faria de tudo para honrar a vida dela. Sim, é um clichê do gênero, porém, quando se adiciona pontos interessantes à essa fórmula, o básico se torna bom. E é o que acontece em “Operação Vingança”.
Originalmente intitulado “The Amateur” (“O Amador”), o filme acompanha Charles Heller (Rami Malek), um criptógrafo que, depois de sofrer uma grande perda em um ataque terrorista, exige que os chefes para quem trabalha encontrem os responsáveis. Quando entende que ninguém o ajudará para não causar conflitos internos, Heller decide buscar vingança por conta própria.
O roteiro, assinado por Gary Spinelli e Ken Nolan (e baseado no livro de Robert Littell), apresenta logo de cara por onde a trama irá circular. O texto é o ponto principal desta produção, mostrando pontos que se interligam e resolvendo a maioria das pontas soltas. É clichê no início, mas mostra sua potência no decorrer do primeiro ato, deixando claro que é uma história de ação comum, mas com características próprias bem interessantes.
Dar foco ao trabalho do protagonista no começo, mostrando o quanto ele é inteligente e perspicaz, foi uma decisão dos roteiristas que serve para explicar quase todas as ações do personagem durante sua trajetória. Devido à boa consolidação inicial do script, não há motivos para duvidar se é ou não possível o que Heller faz para se vingar.
A trama política é a principal linha narrativa de “Operação Vingança” e é apresentada de forma linear, com diversos pontos sendo revelados ao longo do filme. Aliás, o desenvolvimento da narrativa, com sua curva crescente, é empolgante e se torna sua peça mais essencial. Todos os personagens têm revelações no decorrer da trama, provocando um ar de mistério e uma sensação constante de que há algo a mais a ser descoberto. Demora um pouco para pegar o ritmo ideal de um filme de ação e espionagem, mas, quando acontece, a tensão toma conta da tela e constrói uma atmosfera densa.

Rami Malek foi uma ótima escolha para interpretar Charles Heller. A premissa do filme dirigido por James Hawes (mais conhecido por seu trabalho na televisão, em séries como “Doctor Who”, “Penny Dreadful” e “Slow Horses”) não é mostrar um assassino movido por raiva e vontade de bater em todos que aparecem em seu caminho. Pelo contrário, a ideia principal é mostrar como um homem que não tem a vocação de bandido consegue se transformar em uma pessoa perigosa usando apenas a sua inteligência. É nesse ponto que Malek se destaca.
Claramente o ator não possui a melhor imagem para interpretar um assassino a sangue frio, comum nesses filmes de ação protagonizados por nomes consolidados no gênero, como Liam Neeson, Bruce Willis e Jason Statham. Mas, para “Operação Vingança”, ele foi a escolha perfeita, pois a maior arma de seu personagem é a discrição, perspicácia e sobriedade, características que Malek consegue desenvolver muito bem. Além disso, o ator deixa bem visível a perturbação que acompanha Heller durante sua trajetória, após cada crime que comete.
O elenco também é composto por outros atores famosos, como Rachel Brosnahan, Michael Stuhlbarg, Holt McCallany, Julianne Nicholson e Laurence Fishburne, porém, eles não são tão bem aproveitados como poderiam ser. O roteiro apresenta diversos aspectos interessantes de seus personagens, porém não os aprofunda o suficiente, nem acrescenta camadas que poderiam somar ao enredo.

O talento mais desperdiçado é o de Fishburne, que tem tempo de tela considerável, mas nem sempre entendemos o motivo da sua aparição na trama. Em relação ao seu personagem, Robert Henderso, mentor do protagonista, fica a impressão de que falta alguma explicação, mencionar algo sobre seu passado para que sua função na trama seja melhor compreendida. A química entre ele e Malek é alta e a interação dos dois traz um tempero à trama, porém, não é realizada de uma forma regular e a relação muda de rumo de forma brusca, sem muita explicação, o que deixa a história deles um pouco confusa.
Pelo menos, o personagem de Fishburne é minimamente desenvolvido, diferente do que acontece com “The Bear”, interpretado por Jon Bernthal. Ele tem duas interações com o protagonista e em nenhuma delas fica claro quem ele realmente é e qual a sua motivação. Sua presença não é justificada em nenhum momento.
Mas tirando esses problemas, “Operação Vingança” é um bom filme, com um roteiro coeso e uma trama interessante que prende a atenção. Tem um ator principal que se apresenta de forma convincente e cenas de ação atrativas. Pode parecer um típico filme de ação, mas oferece bons diálogos e alguma substância, ao invés de só porradaria, explosões e tiros. ■
Onde ver "Operação Vingança" no streaming:

Jornalista e crítica de cinema, sempre que pode está falando de filmes de heróis, animações, comédias românticas ou blockbusters. O jornalismo esportivo foi sua grande paixão durante a graduação. Há pouco, descobriu que o que gosta mesmo é de falar sobre produções audiovisuais, sejam elas filmes que concorrem ao Oscar ou um bom título do Darren Star. Atualmente também trabalha como produtora de TV na Rede Minas.