Também como em “Minha Mãe Quer Que Eu Case”, em “Licença Para Casar” dá para sentir pena do personagem principal masculino, Ben, vivido por John Krasinski: ele é um bom rapaz, mas acaba sendo submetido à tortura de ter que aturar a futura esposa, Sadie, ganhando como bônus a família irritante da moça. E a fórmula é a mesma: depois de sofrer bastante, o sujeito passa por uma súbita lavagem cerebral de uma cena para outra e corre atrás da garota, comportando-se como um cachorrinho adestrado. Parece até que esses filmes são continuações de “As Esposas de Stepford”, com inversão de sexos.
Só a forma como o protagonista é tratado já seria o bastante para tornar o filme ruim, mas ainda há o personagem de Robin Williams, talvez um de seus piores papéis. O agonizante comediante interpreta o reverendo Frank (“franco” ha-ha), responsável pelo curso de preparação de casamento que Sadie obriga Ben a fazer. É tão ridículo e absurdo seu método, que só se pode tirar duas mensagens dali: ou o matrimônio é uma instituição definitivamente falida ou, para dar certo, o casal tem que ser completamente alienado. Representantes da igreja deveriam tentar banir filmes como este, e não ficar protestando contra outros que não fazem mal algum (na verdade, ajudam a questionar a fé para que ela seja melhor compreendida).
É uma decepção saber que Ken Kwapis dirigiu essa bomba, uma vez que ele havia feito um bom trabalho em “Quatro Amigas e um Jeans Viajante” (um típico “filme de mulherzinha”, despretensioso, leve e bem resolvido). Kwapis mal consegue tirar algum proveito do roteiro, limitando-se a um trabalho burocrático, digno de mais uma comédia romântica formulaica e enlatada que Hollywood nos empurra.

Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.